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A Petzl RocTrip ocorre anualmente em diversos lugares do mundo, possibilitando a escalada em lugares diferentes e inimagináveis. O destino dessa vez foi a China, que garantiu uma experiência única.
Tudo começou há cerca de um ano quando a Petzl anunciou que o próximo Petzl Roc Trip seria em Getu na China.
Desde então intensificamos os treinos de escalada, começamos a pesquisar o país e a buscar informações sobre o visto, até que embarcamos.
Ao chegarmos em Beijing o primeiro choque: muito pouca gente fala inglês. Nem mesmo no balcão de informações do aeroporto internacional fomos capazes de nos comunicar usando o inglês. Tínhamos que levar tudo escrito em Chinês para que os taxistas pudessem nos entender.
O segundo choque cultural ocorreu com o trânsito caótico da grande metrópole. E, apesar de não haver placa “Pare”, nem muito respeito ao sinal vermelho, além muitas motocicletas elétricas que não seguem qualquer regra para se locomover, tudo corre perfeitamente bem e durante toda a viagem vimos apenas um acidente de trânsito.
No dia seguinte fomos para o “Temple of Heaven”, um parque no centro da cidade, e o país começou a surpreender: muitas pessoas, jovens e idosas, treinando “tai chi”, dançando, treinando caligrafia com pincel e água no chão e, claro, treinando kung fu.
Nos dias seguintes lutamos para conseguir escolher os pratos nos restaurantes, usando as fotos, mímicas e um dicionário de mandarim que levamos e, obviamente, fomos conhecer a Cidade Proibida e a Grande Muralha, ícones do país milenar.
Chegou então o dia de viajar para Getu, uma das cidades mais pobres da China e na qual seria realizado o Petzl Roc Trip.
Foram cerca de 5 horas de estrada com apenas uma parada na qual tivemos contato com animais (porcos andando no meio do trânsito e comendo ao lado das barraquinhas que serviam comida para as pessoas), muita pobreza, esgoto e sujeira. Mas também tivemos uma vivência maravilhosa com crianças e adultos curiosos com a presença de tantos ocidentais, vestindo roupas diferentes, cheios de máquinas fotográficas e olhando pra tudo aquilo como crianças que descobrem um mundo novo. Foi emocionante ver tudo aquilo e ser visto por todas aquelas pessoas.
Outra imagem marcante foi a plantação de arroz nesse lugar. Apesar de elas parecerem bonitas na TV e nos guias de viagem, na verdade, nessa localidade, o arroz estava submerso em uma água verde e com cheiro desagradável. Era o mesmo arroz que as pessoas que vivem ali iriam comer futuramente.
Chegando em Getu no final da tarde fomos dar uma volta para conhecer o lugar, que é absolutamente fabuloso. As formações de arco na rocha (que podem ser vistas nas fotos) são fascinantes e o calcário adquire contornos magníficos e diversificados no lugar. A água verde dá o toque final nas entradas das cavernas.
Nesse dia começou um pouco do nosso martírio com a comida. Todos os dias no café da manhã, no almoço e no jantar tínhamos “noodles” (feito de arroz e sem qualquer tempero), arroz (também sem qualquer tempero), pimenta, ovo cozido e legumes e, às vezes, uma carne que com muita seleção dos pedaços, era possível comer um pouco.
No dia seguinte fomos escalar após a abertura oficial que teve dança típica e muito discurso. A nossa primeira parada foi no “Great Arch”. Visto de baixo o lugar já era surpreendente. Ao entrar no arco, entretanto, você sente o tamanho e o poder da natureza que está ali. Qualquer ser humano se sente pequeno naquele lugar. E esse foi um dos palcos do espetáculo de escalada que acontecia nesse dia e continuaria nos próximos. Aqui escalamos a “Ceramic House” 6A e a “J'ai Volé Mon Ame à um Clown” 7A.
No segundo dia, fomos conhecer outra zona de escalada. Nesse dia encontramos a Lynn Hill, uma das melhores escaladoras do mundo, em plena forma mostrando como escalar a via “Shi Yi” 8A; um chinês escalando descalço uma 8B e usando os dedos dos pés para pinçar a rocha; muita lama; e o time da Petzl detonando em todos os pontos possíveis para escalada, nas vias mais incríveis e com movimentos inimagináveis.
Nós escolhemos escalar no CMDI Wall: foram 4 vias 6a e uma 4sup, depois das quais partimos para a “Banyang´s Cave” onde escalamos um pouco mais e aproveitamos para assistir os escaladores do time da Petzl.
À noite, uma surpresa no hotel! Estávamos sentados no chão usando a internet e de repente o Walker começou a sentir algo pinicando nas suas costas. Sem conseguir descobrir o que era e fazer com que parasse ele tirou a camiseta e aí veio a surpresa: era um rato!!!! Fora o susto, acabou sendo divertido ver a indiferença dos chineses com a situação, achando tudo aquilo normal e dizendo: “Você por um acaso já viu algum chinês sentado no chão?”.
No terceiro dia fomos ver o “homem aranha” local. Um homem, com deficiência física, que mal conseguia subir uma escada agarrando-se ao corrimão, e que, porém, na rocha, sem qualquer equipamento, nem mesmo sapatilha (escalava descalço), fazia coisas inacreditáveis, a alturas absurdas. Só vendo para entender. Um exemplo de superação.
No último dia do evento fomos para o setor “Lazy Dragon’s Cave”. Além dos amigos chilenos e chineses, dois grandes nomes do time de espeleologos da Petzl nos acompanharam: Eric Sanson e Carlitos. Lá escalamos a “Spiderman Returns” 7C e “Hunny Hunter P1” 5A. O lugar é incrível. Fica na entrada de uma caverna logo acima do rio que nela se adentra. À tarde, fomos assistir ao show que o Dani Andrada e o Chris Sharma deram cruzando o teto do “Great Arch”, escalando a “Corazon de Ensueno” 10B, além de, novamente, termos todo o time da Petzl ali reunido e escalando, um ao lado do outro. Era difícil escolher para onde olhar.
No final da noite a festa de encerramento, com os escaladores dançando e cantando no palco, o DJ La Fouche tocando e muita gente na praça, além de CHURRASCO!!!! Pena que não dava para comer... muito osso e gordura e nada de carne.
No dia seguinte, o retorno para Beijing.
O Petzl Roc Trip foi a nossa oportunidade de conhecer uma cultura fascinante, com um povo diferente, com comidas e hábitos de higiene e educação totalmente diferentes do nosso. Sofremos um pouco no começo, chegamos a reclamar muito, mas no final foi tudo absolutamente fantástico.
O evento levou para o lugar mais pobre da China mais de 1000 pessoas e mais de 400 vias de escalada que continuarão atraindo turistas do mundo inteiro e gerando renda para a população local. Deu a oportunidade de estudantes de inglês serem voluntários e praticarem com estrangeiros com todos os sotaques do mundo o que aprendem na universidade e que a população em geral tem muita dificuldade.
A escalada foi fascinante, o lugar é lindo, as pessoas são surpreendentes e o que o evento gerou para aquela região jamais será esquecido pela população local, por todos os que estiveram presentes e o melhor, continuará gerando reflexos no desenvolvimento da região.
Obrigada à Petzl pela oportunidade que foi dada à população local e pela oportunidade que nos foi dada de vivenciar algo tão diferente e emocionante.
Nos vemos no próximo Petzl RocTrip em 2012!!!