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Considerado o "cânion dos cânions", Gurutuba fica no município de Apiaí, dentro do PETAR, em plena Mata Atlântica. Foi conquistado com muito custo e muito frio pela equipe da Ecoesportes, liderada por Walker Gomes Figueirôa.
Ainda lembro da primeira vez que vi a cara do Gurutuba, uma cachoeira altíssima que se perdia dentro da goela do morro, num emaranhado de árvores e pedras negras afiadas como faca. Eu, meu irmão e o Ricardo fomos com o professor Walker realizar o batismo do nosso curso de espeleo vertical no Parque Estadual do Alto do Ribeira (PETAR), e na volta ele aproveitou para nos mostrar um dos grandes orgulhos de sua vida, a conquista do Cânion do Gurutuba. Não sei se foi nossa pouca experiência ou a altura de toda aquela encosta, mas fomos embora com um friozinho na barriga. Um pé no meio do caminho O Cânion Gurutuba fica no município de Apiaí, dentro do PETAR, em plena Mata Atlântica. O Gurutuba foi conquistado pela equipe da EcoEsportes liderada pelo instrutor de Canyoning Walker Gomes Figueirôa, que a muito custo e com muito frio conseguiu finalmente “grampear” e fazer o croqui de todo o cânion, a cerca de quatro anos atrás. Combináramos de acordar bem cedo para sairmos ainda com luz do cânion. No dia anterior havia chovido absurdamente e estávamos todos receosos de que isso fosse impossibilitar a finalização de uma semana de curso intenso de canyoning avançado. O Gurutuba, segundo o Walker, seria a certificação oficial das técnicas aprendidas. Estávamos em quatro, Walker, guia e professor de Canyoning Avançado, eu, o Edgar e o Davi, dois mexicanos que tinham vindo ao Brasil para participar do curso.
Amanheceu bastante frio, o céu estava azul vibrante, sem qualquer nuvem, bem diferente do tempo nublado que nos acompanhava nos últimos dias. As 7h30, com o carro atolado de equipamentos, já havíamos tomado café e estamos todos saindo de Iporanga em direção ao cânion. Como de costume, o Edgar teve permissão para dormir e deu uma bela cochilada no caminho. Levamos quase uma hora pra chegar, estacionamos o carro em frente a uma chácara e começamos a vestir nossas roupas de neoprene, cadeirinhas e demais equipos, os mexicanos estavam usando somente uma roupa de 3 mm e por isso ainda colocaram por cima de tudo seus macacões de espeleo pra tentar manter qualquer calorzinho possível pois o Walker já tinha nos advertido que lá dentro fazia muito frio. Demoramos em torno de quinze minutos para chegar a primeira das próximas 17 cachoeiras que teríamos que enfrentar durante a descida. Por não apresentar grandes dificuldades técnicas o Walker achou que valia a pena pouparmos um tempinho pegando uma curta trilha lateral nos ajudou a evitar a primeira queda e iniciar direto na segunda cachoeira. A partir daí só pra baixo, direto e reto, sem qualquer possibilidade de atalhos. Sequer imaginávamos que esses minutinhos poupados seriam muito preciosos no final da empreitada. Iniciamos o primeiro rapel por volta de 10h da manhã imaginando que levaríamos em torno de 6 horas para vencer todo o cânion. Queríamos sair cedo de lá para podermos voltar para Piracicaba naquele mesmo dia pois segunda-feira eu trabalhava e tinha faculdade. Apesar de terem anos a mais de vivência de corda em escalada, espeleo e resgate do que eu, com exceção do Walker, a experiência do grupo em cânions se resumia a duas investidas que havíamos feito durante a semana do curso, e apesar dos cânions em Brotas serem também bastante altos, a potência das suas águas não chegava nem aos pés da força ignorante que ela assumia no Gurutuba. O vento frio e o som furioso das cachoeiras envolviam todo o ambiente e acho que não falo apenas por mim, mas o Davi e o Edgar também ficaram ansiosos com o que estávamos por iniciar. Com exceção das estórias que o Walker havia nos contado, eu não sabia sequer o que esperar da aventura simplesmente pelo fato de não conhecer quase nada da geografia de cânions. Ancoramos nosso primeiro rapel numa árvore e a descida foi lisa e tranqüila, a medida que baixava, um bolo ia se formando em meu estômago conforme descobria o que ele queria dizer com “um cânion pra macho”. A água estava bastante fria mas acho que o pior era mesmo o vento, antes de entrarmos no terceiro rapel aproveitamos os últimos raios de sol que conseguiriam chegar até nós. Teríamos que fazer tudo muito rápido pois não haveria mais qualquer fonte de calor para nos ajudar, tudo fica mais escuro, como num fim de tarde prestes a receber um temporal.
Naquele ponto o Gurutuba abria suas entranhas e íamos cada vez mais sendo cercados por lisos paredões coroados por uma vegetação extremamente densa. A fúria das águas se torna o som de fundo dificultando qualquer tipo de comunicação. O perigo do Gurutuba não são apenas suas 18 cachoeiras violentas cujos rapéis muitas vezes terminam em perigosos refluxos e redemoinhos prontos para engolir o que quer que penetre em suas águas turvas, mas também o fato de que logo após o terceiro lance o cânion subitamente sofre um brusco afunilamento, não permitindo qualquer via de escape. Durante toda a semana tomamos diversos tombos praticando águas vivas nos rios de Brotas e do Vale do Ribeira e já estávamos bastante acostumados com pedras lisas e os diversos musgos que nos nocauteavam e persistiam em presentear-nos com novos hematomas, mas a formação calcária do Gurutuba era um teste a parte, pedras negras como a cor de pancada violenta, lisas como gelo, sequer chegávamos a escorregar nelas, literalmente patinávamos. Era difícil firmar o pé durante o rapel por mais que controlássemos nosso centro de gravidade. Uma simples torção poderia se transformar num pesadelo naquele ambiente, sabíamos que dificilmente alguém seria capacitado para nos tirar dali em caso de emergência. Some a isso um vento de 30km/h canalizado por toda a garganta, gelando a alma e turvando o pensamento. Mesmo que um possível resgate chegasse, jamais o faria a tempo suficiente de salvar-nos da morte por hipotermia. Dividimos o grupo em duas equipes que se alternariam montando e desmontando os sistemas, o Walker e o Davi começaram na frente preparando os rapeis, eu e o Edgar íamos mais atrás recuperando as cordas. Estávamos bem nervosos porque sozinhos a pressão de fazer tudo certo era enorme, eu tinha uma sensação quase física de perigo constante, o clichê “o menor erro poderia ser fatal” se aplicava fielmente e toda essa tensão acabou nos deixando lentos e fomos nos atrasando. A cada avanço o Walker parava para nos esperar. Só muito mais tarde, quando chegamos no carro, ele e o Davi nos contaram que numa dessas pausas, ao sentarem-se numa pedra para dar um descanso eles notaram um fêmur humano no meio da vegetação. Não disseram nada na hora pra não piorar o clima, o David inclusive chegou a ver um pé, branco, com aquela cara que ficou muito tempo dentro d’água fria. Disse que o membro estava bem preservado, com os cinco dedos e tudo. Havia na região uma dessas “lendas urbanas” sobre duas pessoas que já teriam caído na cachoeira ao esticando-se para olhar para baixo. Ainda tínhamos boas horas de trabalho pela frente... “Sempre que saio de uma caverna ou volto de uma escalada eu agradeço a Deus, mas dessa vez eu quase fiquei de joelhos. “ - Edgar A próxima cachoeira caía direto dentro de um grande refluxo, enormes pedras submersas formavam perigosos sifões, e um rapel guiado teve que ser armado. O Walker com muita destreza e uma coragem que nos deixou pasmos diversas vezes, foi baixado pelo Davi num molinete utilizando a técnica “segunda chance”, a corda se perdia no fundo do abismo ao cruzar com o gigante jorro d’água que explodia da cachoeira a seu lado. Rapidamente Walker chegou até o fundo da marmita e livrando-se das corredeiras conseguiu subir para a margem direita e montar o sistema. Me aproximei nervosamente do David, coloquei meu oito na corda de resgate, passei o longe na corda guia e iniciei a descida. Olhava pra baixo e só via mais alguns metros de corda que eram engolidos dentro do jato d’água, fui baixando cada vez mais tenso, vendo aquela água branca furiosa crescendo sob meus pés e de repente simplesmente entrei com tudo no turbilhão que me balançava de todos os lados, eu só pensava em não soltar a mão do freio pois ali não havia nenhuma segurança. Logo passei o turbilhão e fui guiado para a margem direita. O Walker já havia descido pra armar o próximo sistema e o David iniciou sua baixada, passou por mim e foi ajudar mais a frente. Fiquei ali na margem colando meu corpo contra a parede para escapar do vento frio enquanto esperava o Edgar, que ainda estava desarmando um sistema mais acima. A tensão, o frio, a penumbra, todo aquele ambiente barulhento e cheio de movimentos aquáticos assassinos, tudo isso começou a minar a equipe, fomos perdendo ritmo. Assim que chegou ao início do rapel guiado o Edgar ancorou-se, prendeu a mochila de cordas na lateral de sua cadeirinha, e iniciou a descida. De repente, simplesmente na parte da corda que era mais furiosamente atacada pela cachoeira, o Edgar ficou preso, não baixava mais. Além da mochila de cordas ele levava nas costas sua guide pack que como uma pá sendo movida pela força das águas acabou virando-o repetidamente de ponta cabeça e o jogando para todos os lados. Fiquei desesperado. Tentei gritar pro David e pro Walker, mas além de estarem bem abaixo de nós, o som da cachoeira simplesmente não permitia que se entendesse nada. Eu estava com o cotovelo bastante inflamado - o que tornou boa parte da descida um suplício - e tentava empurrar a corda para a direita de forma a tirá-lo do jato que cada vez mais o afogava, e permitir que ele ao menos visse o que estava acontecendo. Pareceu uma eternidade até que o Edgar finalmente conseguiu se soltar e chegar até mim, estava branco como cera, os olhões esbugalhados, ficou um bom tempo meio desnorteado, se recuperando das pancadas da água e do susto. Perguntei se ele estava bem, ele disse que sim, e explicou que a mochila de cordas do David que estava a seu lado, tinha dentro uns stoppers (equipamentos utilizados para ancoragem) que com a força d’água saíram da mochila e de alguma forma se enroscaram na corda, bloqueando-o. Por sorte o Edgar é um cara muito experiente e teve a sacada de usar seu shunt para subir na corda e conseguir desatolar os stoppers. Isso tudo com vários metros cúbicos de água sendo jogados na cabeça dele, sem poder ver nada. Foi por pouco. Quem tem o hábito de fazer rapel aos finais de semana numa cachoeira “tranqüila”, num “ambiente controlado”, pode ter a impressão de que o canyoning é um esporte simples, confundem-se conceitos e a visão do praticante é de que o canyoning é um mero cascading, um rapel simples do lado de uma queda d’água e fim de história. O Gurutuba despedaçou essa míope visão em questão de horas. Todos os longos treinos de nós, ancoragens, e águas vivas fizeram sentido, tudo o que aprendêramos em 10 dias estava sendo mostrado em seu grau máximo. Só o que foi gravado no instinto é lembrado durante momentos de grande estresse e exaustão, a memória se desassocia. Quando eu e o Edgar finalmente conseguimos nos recuperar do susto e desmontar as coisas, baixamos por mais um curto rapel até uma pequena plataforma, com cuidado passamos para o outro lado da garganta, dividida pela cachoeira que jorrava acima de nossas cabeças e mergulhava direto no abismo a nossa frente. A fúria e o volume da água impressionavam, um barulho ensurdecedor. Mesmo perto uns dos outros tínhamos que gritar para nos comunicar. Ao chegarmos ao outro lado encontramos o Davi e o que pareceu ser o Walker, abrigados numa cova. As correntes de vento provocadas pelo gigantesco deslocamento da água aumentavam ainda mais a força dos gelados ventos que nos açoitavam dentro do cânion. Aquele era um dos trechos mais confinados, uma fenda com não mais de dez metros de largura cujas altas paredes não permitiam outra saída que não garganta abaixo. As árvores que ficavam bem mais acima, no topo dos paredões, apenas filtravam ainda mais os poucos raios de sol que chegavam até onde estávamos, aquela penumbra dava a impressão de que a noite cairia a qualquer minuto, tudo ficava envolto numa azulada névoa de gotículas d’água. O Walker estava todo enrolado debaixo de sua manta térmica, lutando pra manter acessa uma velinha de 7 dias com a qual ele tentava se esquentar (técnica utilizada para recuperar a temperatura do corpo). O vento entrava furtivamente pelo vão dos pés e das pedras sob as quais estava sentado e apagava o fogo, por mais que ele se esforçasse pra deixar tudo bem selado. Estava tremendo como vara verde, sinal de avançado estado hipotérmico. Nós o abraçamos pra tentar fazer com que seu corpo se esquentasse um pouco mais, enquanto discutíamos como faríamos pra vencer a pior das cachoeiras que nosso croqui indicava como tendo 60 metros. Com o macacão e a jardineira eu vestia no total um neoprene de 8 mm, sentia um leve friozinho, o Walker estava apenas com a parte debaixo de seu neoprene e congelava, os mexicanos que usavam neoprenes ainda mais finos, estavam com frio mas não como o Walker, pois usavam seus macacões de espeleo por cima, o que os deixava menos gelados – pelo menos ainda não estavam tremendo. Nesse ponto a preocupação já tinha tirado de nós alunos a cara de diversão e sentíamos todos uma certa aflição com a delicada situação em que nos encontrávamos. Tínhamos uma corda de 30 m e uma de 50 m, se a de 50 não chegasse até o fim da queda, alguém teria que baixar até a metade e bater um spit para que pudéssemos fracionar o rapel, tudo isso iria tomar um tempo que não dispúnhamos, o frio deixava tudo mais perigoso, os pensamentos cada vez mais embaralhados. Eram três horas da tarde, apenas uma fração de sol e ainda estávamos bem na metade do cânion. Enquanto o David analisava o tamanho da corda, ficamos eu, o Edgar e o Walker num bivaque improvisado, tentando lutar com o vento que ainda teimava em apagar nossa velinha, o Walker continuava tremendo. Eu estava com um neoprene cavado de 3 mm e um de 5 mm por cima e logo percebi que sendo o professor o cérebro do grupo, era ele quem deveria estar mais quente ? Tirei minha cadeirinha, as botas, saquei o neoprene e lhe entreguei. A partir dali, seria questão de tempo para que eu começasse a tremer pois somente a roupa cavada não oferecia grande proteção térmica. O Walker o vestiu, levantou e foi ajudar o David enquanto eu voltava pra junto do Edgar em nossa pobre estufinha. Começamos a descida do cânion numa grande e volumosa cachoeira, agora conforme a garganta se estreitava todo esse volume de água ia sendo cada vez mais comprimido, ganhando força e velocidade. O Gurutuba havia se transformado numa série de marmitas (poços) interligados por altas cachoeiras. As marmitas eram cercadas por paredões rochosos cobertos de musgos felpudos, podíamos ver a mata lá no alto, mas não havia como subir. Conforme as águas da cachoeira da marmita acima caíam na seguinte, iam circulando e formavam um perigoso redemoinho. A corda que sobra na água fica rodando nessa corrente, pronta a se enroscar em qualquer coisa que a encoste e puxar para baixo d’água. Em diversos momentos tínhamos que cruzar a nado essas marmitas para ir de uma margem a outra, entrávamos na água com um pulo lateral pra tentar reduzir a distância, pois a corrente era muito forte e as pedras lisas não tinham qualquer tipo de reglete em que podíamos nos segurar caso escorregássemos e fôssemos jogados pela corrente na queda seguinte. A altura da próxima cachoeira era absurda, nossa caverna dava vista direto pra imensa cortina d’água, centenas de metros cúbicos despejados por segundo. Olhávamos para baixo e só víamos um turbilhão terrível sendo esmagado pela cachoeira. Não há como descrever a tensão do momento. O Davi ia baixando o Walker no molinete nervosamente, me olhava e dizia que tudo ia dar certo, a cada movimento falava consigo - “rápido Walker, rápido Walker, rápido Walker”. Cinqüenta e tantos metros lá embaixo a situação parecia crítica, as águas da marmita rodavam violentamente. O grande perigo de baixar-se alguém naquela situação é que poderia acontecer da pessoa não conseguir a tempo um tamanho de corda suficientemente grande para atravessar a marmita, nesse caso, ele seria arrastado pela correnteza e cairia na próxima cachoeira, mas ficaria preso na corda e se afogaria pois, seria impossível puxá-lo para cima novamente. Eu estava tão impressionado com tudo que não sabia se me firmava no longe com medo de escorregar, ou se filmava essa cena surreal de um pontinho amarelo sendo baixado mestros e metros, descendo em direção a um turbilhão monstruoso e depois pulando em águas selvagens pra levar a corda pro outro lado. Uff... Essa com certeza era a parte que mais nos preocupava e agora vencida, nos permitiu dar uma certa relaxada. Ainda faltavam como dez rapeis, mas todos menos piores dos que os que já haviam sido ultrapassados. A próxima descida, porém não foi menos tensa. A cachoeira se afunilava tanto que tínhamos que passar direto por dentro do fluxo da água. Fui baixando tremendo de medo e de frio, esmagando minha mão na corda para não escorregar ao levar a pancada daquela ducha gigante, milésimos antes de entrar tentei prender o ar, mas a água estava tão fria que sequer consegui inspirar e fui sem fôlego nem nada. Me senti como um surfista rolando dentro da onda. Logo abaixo, porém já saí do jorro e pude respirar aliviado, adrenalina a milhão. O Walker ficou fazendo segurança para os demais enquanto eu dava a volta e procurava algum abrigo para me proteger do vento. Estava escuro demais pra tirar fotos então comecei a filmar a descida do Edgar passando por dentro da cachoeira, eu tremia tanto que as imagens ficaram muito difíceis de entender. Foi interessante observar a reação do meu corpo aquele frio, como me mantinha tremendo por mais que tentasse evitar, a cabeça zonza, muito difícil raciocinar claramente. A partir desse ponto, ainda vieram diversos outros trabalhos de corda, e corrimãos que tiveram que ser armados para que pudéssemos chegar com segurança até as arvores que serviam de ponto de ancoragem. A força das águas foi suavemente diminuindo de intensidade, o cânion cada vez mais serenando, até o som das cachoeiras pareceu menos agressivo. O vento frio dispersou e parei de tremer. Ainda baixamos por quase uma hora até chegar a última queda d’água, era por volta de 18h, e já estávamos na penumbra. Assim que chegamos ao início da trilha da volta a noite caiu. A lua nasceu com força e iluminava todo o caminho, sequer precisávamos de lanterna. Talvez pior do que as nove horas de descida, foi a uma hora de subida da volta. Vencer o desnível absurdo vestido com os neoprenes e mochilas molhadas foi um martírio, tivemos que parar diversas vezes pra tentar puxar algum ar paros pulmões. Os mexicanos subiram como loucos, bem na nossa frente. As batatas da perna assavam, eu estava simplesmente exausto. Chegamos às 20h no carro, cansados, com fome, com frio, e orgulhos de sairmos bem da aventura. O Walker achava que o título da matéria deveria ser “Gurutuba, o cânion dos cânions”, mas eu acho que o Gurutuba é muito mais do que isso. Saber que poucas pessoas podem ser levadas em segurança por esse estreito caminho, que poucas pessoas no Brasil tem as condições técnicas necessárias pra entrar e sair vivo de um cânion como esse, faz agente respeitá-lo. Poder estar num lugar tão inóspito e nunca antes visitado por outra equipe, com minha pouca vivência no canyoning, me enche de orgulho, mas se me perguntarem se quero voltar lá, acho que só daqui alguns meses.
Equipe: Walker Gomes Figueirôa, Brasil (instrutor) Murilo Gimenes Lessa, Brasil David Tirado hernandéz, México Edgar, México
Equipos: 1 corda de 15 x 10,6mm 1 corda 30 x 10 mm 1 corda 50 x 10 mm 1 corda de resgate 50 x 8 mm 4 capacetes Spelaion 4 longes 4 bidons 6,4 L 4 mantas térmicas Equipos de primeiros socorros 4 lanternas de cabeça 2 light stick 4 cadeirinhas Spelaion 4 acqualines Spelaion 4 clif hangers 1 sonda 2 rádios 5 freios 8 3 shunts 3 polias 7 stoppers 1 faca para canyoning 2 canivetes inúmeros mosquetões inúmeras chapeletas Spelaion Muitas fitas tubulares Spelaion 4 valdostanos 4 costuras para canyoning 4 tiblocs roupas de neoprene botas para canyoning 4 saias de canyoning Spelaion 4 kit boules Spelaion 4 sacos de arremesso 2 mochilas guide pack canyon Spelaion 2 mochilas tubos Spelaion cordeletes Spelaion ... entre outros
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